quinta-feira, julho 12, 2007

Só um email que recebi...

Não tenho andado com vontade de publicar nada, mas recebi hoje este email que não resisto a publicar, já que reflecte o estado a que chegou o nosso país, cada vez mais parecido a uma Ditadura... (E o António das Botas é que era Ditador...)



"Exma. Senhora Ministra da Educação


Um dia destes colocaram, no placar da Sala dos Professores, uma lista
dos nossos nomes com a nova posição na Carreira Docente.

Fiquei a saber, Sr.ª Ministra, que para além de um novo escalão que
inventou, sou, ao final de quinze anos de serviço, PROFESSORA.

Sim, a minha nova categoria, professora!

Que Querida! Obrigada!

E o que é que fui até agora?

Quando, no meu quinto ano de escolaridade, comecei a ter Educação
Física, escolhi o meu futuro. Queria ser aquela professora, era aquilo
que eu queria fazer o resto da minha vida. Ensinar a brincar, impor
regras com jogos, fazer entender que quando vestimos o colete da mesma
cor lutamos pelos mesmos objectivos, independentemente de sermos ou
não amigos, ciganos, pretos, más companhias, bons ou maus alunos.
Compreender que ganhar ou perder é secundário desde que nos tenhamos
esforçado por dar o nosso melhor. Aplicar tudo isto na vida quotidiana.

Foi a suar que eu aprendi, tinha a certeza de que era assim que eu
queria ensinar! Era nova, tinha sonhos...

O meu irmão, seis anos mais novo, fez o Mestrado e na folha de
Agradecimentos da sua Tese escreve o facto de ter sido eu a
encaminhá-lo para o ensino da Educação Física. Na altura fiquei
orgulhosa! Agora, peço-te desculpa Mano, como me arrependo de te ter
metido nisto, estou envergonhada!

Há catorze anos, enquanto, segundo a Senhora D. Lurdes Rodrigues,
ainda não era professora, participava em visitas de estudo, promovia
acampamentos, fazia questão de ter equipas a treinar aos
fins-de-semana, entre muitas outras coisas. Os alunos respeitavam-me,
os meus colegas admiravam-me, os pais consultavam-me. E eu era feliz.
Saia de casa para trabalhar onde gostava, para fazer o que sempre
sonhará, para ensinar como tinha aprendido!

Agora, Sr.ª Ministra, agora que sou PROFESSORA, que sou obrigada a
cumprir 35 horas de trabalho, agora que não tenho tempo nem dinheiro
para educar os meus filhos. Agora, porque a Senhora resolveu mudar as
regras a meio (Coisa que não se faz, nem aos alunos crianças!), estou
a adaptar-me, não tenho outro remédio: Entrego os meus filhos a
trabalhadores revoltados na esperança que façam com eles o que eu
tento fazer com os deles. Agora que me intitula professora eu não
ensino a lançar ao cesto ou a rematar com precisão à baliza, não
chego, sequer a vestir-lhes os coletes.

Passo aulas inteiras a tentar que formem fila ou uma roda, a ensinar
que enquanto um "burro" mais velho fala os outros devem, pelo menos,
nessa altura, estar calados. Passo o tempo útil de uma aula prática a
mandar deitar as pastilhas elásticas fora (o que não deixa de ser
prática) e a explicar-lhes que quando eu queria dizer deitar fora a
pastilha não era para a cuspirem no chão do Pavilhão. E aqueles que se
recusam a deita-la fora porque ainda não perdeu o sabor? (Coitados,
afinal acabaram de gastar o dinheiro no bar que fica em frente à
Escola para tirarem o cheiro do cigarro que o mesmo bar lhes vendeu e
nunca ninguém lhes explicou o perigo que há ao mascar uma pastilha
enquanto praticam exercício físico). E os que não tomam banho? E os
que roubam ou agridem os colegas no balneário?

Falta disciplinar?

Desculpe, não marco!

O aluno faz a asneira, e eu é que sou castigada? Tenho que escrever a
participação ao Director de Turma, tenho que reunir depois das aulas
(E quem fica com os meus filhos?). Já percebeu a burocracia a que nos obriga?
Já viu o tempo que demora a dar o castigo ao aluno? No seu tempo não
lhe fez bem o estalo na hora certa?

Desculpe mas não me parece!

Pois eu agradeço todos os que levei!

Mas isto é apenas um desabafo, gosto de falar, discutir, argumentar
com quem está no terreno e percebe, minimamente do que se fala, o que
não é, com toda a certeza, o seu caso.

Bastava-lhe uma hora com o meu 5ºC. Uma hora! E eu não precisava de
ter escrito tanto! E a minha Ministra (Não votei mas deram-ma. Como a
médica de família ,que detesto, mas que, também, me saiu na rifa e à
qual devo estar agradecida porque há quem nem médico de família tenha
- outro assunto) entendia porque não conseguirei trabalhar até aos 65 anos,
porque é injusto o que ganho e o que congelou, porque pode sair a
sexta e até a sétima versão do ECD que eu nunca fui nem serei tão boa
professora como era antes de mo chamar!

Lamento profundamente a verdade!



Viana do Castelo



Ana Luísa Esperança

PQND da Escola EB 2,3 Dr. Pedro Barbosa"

3 comentários:

Anónimo disse...

É de facto uma tristeza verificar, que os nossos sonhos se vão diluindo num presente cada vez mais sem futuro, que o passado já era, e que o futuro não augura nada de bom.
Considero o texto muito bem escrito e que o mesmo retrata de forma fidedigna o estado da educação no nosso país.
Só posso dar os meus sinceros parabéns à docente que escreveu este texto, porque pôs a nu os sentimentos que pairam na classe docente e não só (tristeza, revolta, angústia, incerteza, entre tantos outros).
Bem-haja cara colega.
Bem hajas tu também por teres publicado no teu blogue este mail.
Beijo grande.
Antónia Ferreirinha

Anónimo disse...

obrigada mesmo pelo teu comentario nao sabia que podias comentar men sabia que ias ler fica bem amigo

Anónimo disse...

Sinto Uma tristeza enorme de ver o nosso país afundar-se cada vez mais em tds os sentidos:-( Beijos